terça-feira, 29 de abril de 2014

Viver sobre juncos. As ilhas dos Uros, no lago Titicaca



Esta é a história contada de Cristina e Vítor Suaña, aymaras, construtores de ilhas e empresários da ilha Khantati (amanhecer em língua aymara), no conjunto das ilhas dos Uros, no lago Titicaca. O lago, a 3810 m de altitude, estende-se entre o Perú e a Bolívia, com águas misteriosas e que, nesta manhã calma, espelhavam o céu.














Há uns 10 anos, Cristina e Vitor acharam que havia demasiada gente e conflitos na ilha onde viviam, muitos dos quais devidos a diferentes atitudes face ao turismo emergente, e tomaram a decisão de construir a sua própria ilha. As ilhas são plataformas flutuantes, espessas, de camadas de totora, uma espécie de juncos. Para que as ilhas não derivem ao sabor dos ventos, amarram-se a postes de eucalipto espetados no fundo. As ilhas agrupam-se, numa espécie de malha urbana, com pequenos canais entre elas e estruturadas pelo rio central por onde se faz a grande circulação entre a cidade de Puno e o lago e as suas ilhas.

















As plataformas exigem manutenção continuada, pois a degradação do material submerso requer uma constante reposição na parte superior. Os colmos frescos são verdes, com uma secção mais ou menos arredondada, que se vai achatando à medida que secam e ficam castanhos, cor de café com leite. Quando se atraca e se dão os primeiros passos na ilha, estranha-se o fofo e caminha-se com cuidado, como se fosse preciso manter o equilíbrio.
















Tudo na ilha é feito de totora, as casas têm como base de suporte uma camada de totora, paredes entrançadas e telhados com esteiras, os bancos são molhos cilíndricos bem amarrados. Vivem na ilha quatro famílias, ligadas entre si, e que cooperam na gestão da empresa. 
















O Vítor levou-nos no seu barco e mostrou como se corta a totora, com uma pequena lamina amarrada na ponta de uma vara comprida. São cortadas acima da raiz flutuante, com comprimentos de perto de 2 m. Também exemplificou a pesca dos pequenos peixes originais do lago, com redes fixas esticadas, e queixou-se que as trutas que foram introduzidas se desenvolveram bem de mais e comem os outros peixes.  
















Contou como iniciaram a construção da primeira cabana para alojar turistas, ridicularizados pelos amigos - que turistas quererão dormir numa ilha? -, como de facto quase desistiram quando não vinha ninguém e, reconheceu-o, só a persistência da Cristina os manteve. Depois, veio um turista, depois outro, começou a funcionar o boca a boca e construíram mais cabanas. Instalaram casas de banho ecológicas, painéis fotovoltaicos, por enquanto sempre a investir. As reservas e toda a correspondência electrónica são tratadas por telemóvel. Mas agora ficaram famosos, a Cristina aparece no Lonely Planet!


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