terça-feira, 26 de outubro de 2010

Áleas de espinhos

Nunca tinha encontrado fiadas de ceibas a ladear ruas ou caminhos. Foi aqui em Palermo que as vi, primeiro na Universidade, a ladear a rua principal. Depois no Orto Botanico, em fiadas ao longo de vários caminhos e na Villa Giulia, o jardim mesmo ao lado, a fazer um xadrez num dos cantos.
Têm uma imagem forte. Em primeiro lugar fica na memória o seu tronco barrigudo, como um sempre-em-pé estranho, mesmo se algumas são mais ou menos cilíndricas. Depois os espinhos, fortes e pontiagudos, mais numas do que noutras, e uma casca muitas vezes estriada de verde fotosintético. As flores vistosas, rosas ou brancas, a cair em tapetes garridos. Os frutos são grandes e abrem numa bola de fios sedosos.
Ceiba speciosa, o palo borracho que encontrámos em Buenos Aires, também chamada barriguda, paineira ou kapok, a silk floss tree já teve o nome científico de Chorisia speciosa (é ainda assim que está nas tabuletas no Orto). Também é conhecida como enchimento de almofadas, embora seja outra espécie, a Ceiba pentandra, a verdadeiramente considerada sumaúma.
Palermo, 24.Out.2010




sábado, 23 de outubro de 2010

Igrejas igrejas igrejas!

São muitas as chiesas de Palermo! Nas ruas, de um lado e outro, por vezes a pouca distância, ao virar da esquina, nos becos e nas praças. Às vezes soltas, como a Chiesa di San Giorgio dei Genovesi, em terreno aberto junto ao Porto, singela.
Misturam-se também as arquitecturas, fruto da diversidade da ocupação histórica da cidade. O mapa turístico da cidade divide mesmo os percursos por período: árabe-normando, gótico-renascimento, séc. XVII e barroco, séc XVIII, séc. XIX e arte nova.
Na memória ficam só algumas. Pela surpresa de a encontrar junto ao porto, graciosa e sóbria, ligeiramente dourada no sol que abria, a renascentista Chiesa di Santa Maria della Catena, um convite a parar nas arcadas da entrada. Ou o pequeno cubo simples com cúpula vermelha, da Chiesa di San Cataldo, a evocar os cavaleiros do Santo Sepulcro. E a catedral, claro, misturando épocas e estilos, com a grande praça a dar espaço e os adolescentes do liceu Vitor Emmanuel ao lado a namorar nos bancos.
Palermo, 23.Out.2010





As ruas traseiras de Palermo

Sem guia para dar prioridade à visita, apenas com um mapa, comecei a volta. E quis o acaso das deambulações que conhecesse as ruas traseiras de Palermo antes do circuito monumental.
Estreitas, muito estreitas, as varandas quase tocando-se, as fachadas esquálidas, um ar de pobreza, mistura e confusão. Nas ruas maiores, uma mistura de gentes, bem visível a proximidade do norte de África e da África mais abaixo. Mas principalmente os sicilianos, ruas de homens, velhos e novos, homens nos cafés e nas esquinas, jogos de cartas, discussões acaloradas nas vielas que parecem ir levar a um tiroteio. Por todo o lado, carros e muitas motoretas, vespas e congéneres.
As varandas correm nas fachadas, roupa em algumas e, em muitas, vasos com plantas e flores. Adivinham-se casas, visões de filme.
Encontrei também mercados de rua, que deixam no fim da tarde um rasto de restos de legumes e caixas vazias. Em algumas das ruas, o estendal das bancas é ao estilo dos souks árabes, vende-se de tudo, desde roupa e sapatos a cortinados ondeando ao vento.
A pouca distância do Palazzo Real, encontrei as cavalariças para os cavalos que fazem os passeios na cidade. A princípio pareceram-me um pequeno bairro da lata, mas aí estava um a ser escovado e, vendo bem, os cubículos até estavam limpos e pareciam funcionais.
Por aqui há casas senhoriais abandonadas, embora ainda graciosas, e igrejas decrépitas mas mostrando o seu passado de renascimento ou barroco.
E passa-me pela cabeça que as cidades continuam a ter dificuldade em fazer viver os seus centros históricos, mantendo a pujança que outrora tiveram, com a diversidade de gentes que as tornaram grandes e mexidas.
Em Palermo, sente-se bem a riqueza dos cruzamentos passados.
Palermo, 23.Out.2010




quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Glimpse travels

Há vários tipos de viagens. Falo hoje dos glimpse travels, assim me surgiram, em inglês, as “viagens espreitadelas”, olhares roubados num instante, quiçá inesperado, certamente não programado. Quando ocorrem? No interior de viagens de trabalho, nos acasos de voltas profissionais, uma tarde, um dia livres, voltas soltas sem preparação ou o conhecimento que integra o planeamento de viagens dedicadas. Sem sistematização ou lógica, são fruto do acaso e do tempo, ou também das oportunidades que os próprios eventos oferecem.
Lembro dourados e espelhos dum banquete na esplendorosa sala espanhola do castelo de Praga, um templo grego contra o céu ao pôr do sol em Paestum, a calma suave no fim da tarde no chateau d’Yquem no regresso da recolha das uvas, a emoção dos muralistas mexicanos em Chihuaha e depois na cidade do México, o sortilégio dum comboio a apitar na noite nas faldas do Himalaia.
Ficam assim farrapos, pinceladas, por vezes fortes, que perduram na memória. Não são extrapoláveis para o país ou a cidade (mas quando o são?), representam apenas a surpresa, a emoção e o olhar aberto de um instante, às vezes em cenários que evocam leituras, filmes ou notícias.
Como em Palermo, agora.
Ficou já a chegada no aeroporto de Punta Raisi, um cabo esticado no mar tirreno a cerca de 30 km da cidade. O avião aterra em pista que corre ao longo do mar, as ondas mesmo ali a quebrar em linha paralela, o mar a perder de vista como se se estivesse num fim de terra…
Palermo, 21.Out.2010
Helena