terça-feira, 22 de março de 2011

Revisiting Travels / Viagens de revisita - Praga 2009-2011

Há lugares onde apetece voltar. Às vezes é para conhecer melhor, quando faltou tempo de passear e conhecer, ou para continuar uma relação com espaços, ambientes ou gentes que se acha ainda incompleta. Mas há também, em alguns casos, apenas o desejo de voltar, de tornar a ver e a estar. A percepção deste desejo nem sempre é clara, muitas vezes mantendo-se latente até uma oportunidade o fazer emergir.
Foi este o caso de Praga. Pela primeira vez em 2009, Praga foi um amor imediato, de fascínio pelas casas, ruas e praças. Árvores floridas na primavera, imagens de fachadas de cores suaves, frontões recortados e muitas decorações, um cardápio de estilos arquitectónicos. Ao sentimento de bem-estar em cafés, restaurantes, bancos de rua, juntou-se uma magia difusa de um passado de conhecimentos e artes diferentes e intensos. As torres das igrejas marcam o horizonte, as estátuas erguem-se por todo o lado e alguns dos santos têm nomes estranhos, os concertos parecem fazer parte da cidade.
Karlúv most, a ponte Calos,é um marco, a unir a cidade baixa com a colina. Se nos dias radiosos, ela é um mar de gente e uma tracção turística obrigatória, de realejos, bugigangas e retratos, à noite ou à chuva, ela fica misteriosa, deixando entrever o rio e a cidade estendida na bruma. Como agora, nesta viagem de revisita, dois anos depois da primeira.
Lá em cima o castelo. Uma mole maciça de janelas repetidas, em jeito de muralha que barra a vista. Lá dentro, imaginam-se os corredores, os físicos e os dos processos administrativos, as voltas inexplicadas e os becos, a impotência e a compreensão. Kafka deve ter visto as mesmas imagens milhões de vezes, sempre que levantava os olhos para o outro lado. Foi este o sentimento que me ficou do seu Castelo, lido há muitos anos, e que agora revisitei. E que a estátua em sua homenagem também transmite, apesar de não a compreender bem!
No meu imaginário vai também ficar associado o vento cortante dos pátios do complexo.
Praga, 18 de Março de 2011
Helena