sábado, 2 de abril de 2011

Expresso, cappuccino, chocolate (em Praga)

As cidades são também os seus cafés. A memória de um expresso, capuccino ou chocolate pode perdurar tanto ou mais do que a de uma catedral ou museu, talvez porque à imagem se associam pedaços de vida.
De Praga, ficam três cafés.

O café da Casa Municipal, uma enorme sala rectangular, com grandes janelas para a rua, que logo desde a rua permitem adivinhar o ambiente. Os lustres pendem, luminosos, reflectindo o brilho nos espelhos. Está-se no reino da Arte Nova, nas linhas e nas decorações, nos painéis, criando um ambiente de cores pastel, sorrisos nos olhos e alegria despreocupada, a lembrar as jovens nínficas de Mucha. Nesta hora ao fim da noite, são poucas já as pessoas, alguns casais, duas amigas, uma ou outro solitário.


O Café Oriental é cubista, no 1º andar da casa cubista da Madona Negra, bem perto. Por cima está o museu cubista, com planos de arquitectura, mobiliário, pinturas e escultura. Em baixo, a loja com uma delícia de objectos a recriar a época. No café, ao fim da tarde, tomou-se o melhor chocolate de Praga. Aqui são os triângulos que imperam, as linhas direitas mas quebradas em ângulos agudos, a desconstrução do plano único por várias faces. O estilo está nas mesas e nos candeeiros, no bengaleiro e nas chávenas. Associo-o a ruptura, de vanguarda dos anos 20 em que a transgressão se fazia em grupos de artistas e pensadores.


O Café Slavia fica em frente do Teatro Nacional, numa esquina com grandes janelas com vista para o Vltava. Um café urbano, de quem vai ao teatro, ou de conversas entre amigos, ou poiso habitual para ler o jornal da manhã, que integra os diferentes ambientes ao longo do dia. O estilo é aqui um neo-clássico a lembrar senhores burgueses e conversas de intelectuais estabelecidos. Tem um piano que acompanha o fim do dia. Aqui também se come, e bem. A clientela é mais heterogénea, desde os senhores e senhoras de Praga a estrangeiros de todas as idades. Como o jovem chinês que, depois da concordância do pianista, ali esteve a tocar, com ar deliciado e grande maestria.

24 de Março de 2011

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