sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Pináculos, colunas e árvores amarelas

Há imagens, ou impressões de imagens, que sabemos que vão ficar. Para além da viagem e da sua história integrada, do álbum organizado de memórias e saberes, acontecem farrapos gráficos, certamente associados a algumas emoções pretéritas, que se erguem do tecido da recordação.
Como as colunas de pedra, quais pilares de catedral, espetadas nos vales à volta de Goreme, singulares ou agrupadas. Um ar de outro mundo, ou algo mágico. São as chaminés das fadas, que viviam sob o solo. Há torres e cones encabeçados por chapéus, em equilíbrio improvável, as formações em cogumelos como assim lhes chamam.
A história é também interessante, um exemplo da mudança e de ciência dos materiais, que se pode contar como história de embalar. Há muitos muitos anos, as erupções de dois vulcões cobriram a terra desta região com uma camada fofa de cinzas e lava, um tufo vulcânico, que formou uma planície extensa. Em algumas zonas, ou em determinados períodos, a lava chegou espessa das profundidades dos vulcões e formou camadas de basalto resistente e denso. Os vulcões extinguiram-se. Mas vieram ventos e águas, diferenças térmicas de dia e noite, de verão e inverno, e sismos que fracturaram, escavaram ravinas, fizeram vales e canyons. O tufo frágil erodiu-se rapidamente, deixando montes ou cones arredondados ou pontiagudos. Mas quando eram encimados por basalto, este não só resistiu mais, como promoveu a compactação das camadas por baixo e lhes aumentou a resistência à erosão. Ficam assim colunas de tufo topeadas de lajes de basalto, claramente mais escuras do que o castanho claro ou esbranquiçado do tufo.
Não pude deixar de pensar nas torres e telhados feitos por Gaudi nas suas casas de fadas. E a Sagrada Família, com as suas torres cónicas esburacadas também parece inspirada nos montes escavados com conventos e igrejas. Mas essa é já outra história…
O amarelo das árvores, neste fim de Outono com sol de S. Martinho, associa-se indelevelmente à imagem das colunas de pedra e dos vales. O esguio de grupos de choupos ajuda a marcar as verticais, o arredondado das copas de outras folhosas mais baixas faz o contraponto. O brilho dos amarelos, por vezes com algum castanho ou vermelho, dá um toque de alegria.

Goreme, 12.Nov. 2010



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