quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O que o ecoturismo pode fazer por uma região deprimida

Há 20 anos, a Chapada Diamantina estava numa daquelas situações de fim de ciclo que as regiões de monocultura (aqui eram os diamantes) conhecem periodicamente e de que, a cada vez, parece muito difícil sair. Na esteira da Conferência do Rio (1992), houve a percepção de que a Natureza encerrava um potencial susceptível de criar novas oportunidades, até aí inexploradas. Pelo que percebemos, algumas ONGA que reuniam juventude local terão contribuído, à sua maneira, para empurrar as coisas no sentido certo. O que viemos encontrar em 2010 é uma região em estado de puro optimismo (na linha do estado geral que, felizmente, assola o Brasil por estes tempos), uma região em que as pessoas transparecem felicidade, simpatia e confiança.
Tudo centrado no turismo de Natureza, que traz, durante o ano todo, um fluxo regular de visitantes e alimenta um sem número de empresas e profissionais: guias, carregadores, condutores de veículos todo-o-terreno, pousadas para todas as bolsas, “nativos” (como são chamados os locais que habitam pelos montes fora e acolhem nas suas casas os caminhantes em jornadas mais longas nos vales e planaltos), restaurantes (alguns bem sofisticados na comida regional que servem), bares e lojas de artigos de alimentação, lojas de souvenirs, pequenos museus locais e ateliers de artistas. Para se ter uma ideia, a Venturas e Aventuras, empresa sedeada em Lençois que nos organizou e guiou na estadia na Chapada, tem cerca de 15 guias locais (além de carregadores e condutores). A empresa Bicho do Mato, que nos guiou na visita ao Buracão (que a Lena descreve noutro post), sedeada numa pequena localidade, emprega cerca de uma dúzia de guias locais. Tudo muito profissional, partidas e chegadas a horas, organização sem falhas, simpatia e colaboração sempre presentes.
Há 20 anos atrás estava em marcha um novo êxodo daqueles que assolam periodicamente o interior do Brasil desde há dois séculos. Hoje existe uma população jovem, activa e confiante. Percebe-se que a consciência da Natureza como recurso colectivo é elevada. Pequenos sinais: a recolha de lixo separativo em todo o lado, mesmo nas papeleiras da via pública; as ETAR em construção; os painéis informativos e os folhetos de divulgação e sensibilização por todo o lado; a imaculada limpeza das trilhas e das ruas. E grandes sinais: o discurso e a atitude das pessoas; a noção de que se trata de um desenvolvimento suportado na valorização dos recursos endógenos. Contraste com a pilhagem dos tempos do garimpo e do desmonte mecânico das margens dos rios e riachos, com as consequências ambientais conhecidas e ainda bem visíveis no vale assoreado do Paraguassu.
Itacaré, 2 Setembro
Vitor



2 comentários:

  1. Haja optimismo nalgum sítio!

    E que coisa deliciosa um "mercadinho" ser chamado de "Flamboyant"!


    Mas queridos amigos, viajantes e "seguidores", será que só eu mesmo é que mando umas bocas?

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  2. Parece que sim ! Já nos interrogámos porquê ?
    Vitor

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