Esta é
a história
contada de Cristina e Vítor Suaña,
aymaras, construtores de ilhas e empresários
da ilha Khantati (amanhecer em língua
aymara), no conjunto das ilhas dos Uros, no lago Titicaca. O lago, a 3810 m de
altitude, estende-se entre o Perú
e a Bolívia,
com águas
misteriosas e que, nesta manhã
calma, espelhavam o céu.
Há
uns 10 anos, Cristina e Vitor acharam que havia demasiada gente e conflitos na
ilha onde viviam, muitos dos quais devidos a diferentes atitudes face ao
turismo emergente, e tomaram a decisão
de construir a sua própria
ilha. As
ilhas são
plataformas flutuantes, espessas, de camadas de totora, uma espécie de juncos. Para que as ilhas não derivem ao sabor dos ventos,
amarram-se a postes de eucalipto espetados no fundo. As ilhas agrupam-se, numa
espécie de malha
urbana, com pequenos canais entre elas e estruturadas pelo rio central por onde
se faz a grande circulação
entre a cidade de Puno e o lago e as suas ilhas.
As plataformas exigem manutenção continuada, pois a degradação do material submerso requer uma constante reposição na parte superior. Os colmos frescos são verdes, com uma secção mais ou menos arredondada, que se vai achatando à medida que secam e ficam castanhos, cor de café com leite. Quando se atraca e se dão os primeiros passos na ilha, estranha-se o fofo e caminha-se com cuidado, como se fosse preciso manter o equilíbrio.
Tudo na ilha é
feito de totora, as casas têm
como base de suporte uma camada de totora, paredes entrançadas e telhados com esteiras, os
bancos são
molhos cilíndricos
bem amarrados. Vivem na ilha quatro famílias,
ligadas entre si, e que cooperam na gestão
da empresa.
O Vítor
levou-nos no seu barco e mostrou como se corta a totora, com uma pequena lamina
amarrada na ponta de uma vara comprida. São
cortadas acima da raiz flutuante, com comprimentos de perto de 2 m. Também exemplificou a pesca dos pequenos
peixes originais do lago, com redes fixas esticadas, e queixou-se que as trutas
que foram introduzidas se desenvolveram bem de mais e comem os outros peixes.
Contou como iniciaram a construção da primeira cabana para alojar
turistas, ridicularizados pelos amigos - que turistas quererão dormir numa ilha? -, como de facto
quase desistiram quando não
vinha ninguém
e, reconheceu-o, só
a persistência
da Cristina os manteve. Depois, veio um turista, depois outro, começou a funcionar o boca a boca e
construíram
mais cabanas. Instalaram casas de banho ecológicas, painéis fotovoltaicos, por enquanto sempre
a investir. As reservas e toda a correspondência electrónica são tratadas por telemóvel. Mas agora ficaram famosos, a
Cristina aparece no Lonely Planet!
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